Após 10 anos do caso Nardoni, jornalista lança livro com indícios de falhas no processo

  • Por Jovem Pan
  • 16/03/2018 11h56
Johnny Drum/Jovem Pan Autor lança na próxima semana "O Pior dos Crimes: A História do Assassinato de Isabella Nardoni"

Em março de 2008, um crime chocante abalou o Brasil. Na noite do dia 29, o pai Alexandre Nardoni e a madrasta Anna Carolina Jatobá teriam agredido a menina Isabella e, em seguida, atirado seu corpo através da janela do apartamento em que viviam no sexto andar do edifício London, na zona norte de São Paulo. Essa história todo mundo conhece. Ou pelo menos acha que conhece. Na próxima segunda-feira (19), Rogério Pagnan, jornalista da Folha de S. Paulo, lançará um livro – já considerado controverso entre as autoridades –  no qual desmente informações oficiais e coloca a culpa do casal, condenado a mais de 20 anos de prisão, em dúvida. 

“Esse foi um caso que comoveu muita gente. Então só de ver a informação sobre o lançamento já me criticaram como se eu fosse a defesa deles. Estar aqui é uma oportunidade de explicar a obra. É um trabalho jornalístico, uma investigação jornalística, que segue os rigores de uma publicação correta baseada em documentos e entrevistas. Nada foi inventado. Nenhum diálogo foi criado. Não me permiti essa liberdade poética de recriar fatos”, explicou o autor ao Morning Show. “É fruto de um trabalho de 5 anos de apuração. Estudei, procurei peritos que me ajudaram, fiz entrevistas, tive acesso a documentos. Todas as informações têm fontes”.

Intitulado O Pior dos Crimes: A História do Assassinato de Isabella Nardoni, o livro reconta o passo a passo conhecido da morte da garota e pontua quais pontos apresentados pelo promotor Francisco Cembranelli, pela delegada Renata Pontes e pela perita Rosangela Monteiro podem ser de fato comprovados. E, segundo ele, poucos. Escreveu, por exemplo, que não é possível cravar a presença de sangue no carro do casal e nem a existência de marcas na camiseta de Alexandre – dois dos principais indícios apresentados pela acusação na época.

Há ainda uma dúvida acerca de um arrombamento que teria acontecido nos fundos do prédio pouco antes da morte. A informação foi cedida ao repórter por um pedreiro que trabalha em uma obra por ali. Ele garantiu que viu uma pessoa arrombando o portão, mas não soube identificar quem era. Intrigado, Pagnan perguntou no Distrito Policial responsável pela investigação se algum agente havia feito o tal arrombamento, mas a resposta foi negativa.

“Tem outro ponto interessante. A defesa sustentou, em um primeiro momento, que havia uma terceira pessoa envolvida. Quando trocou de advogado, do meio para o fim do processo, passou a sustentar que não era possível saber o que aconteceu dentro do apartamento. Cogitou até a possibilidade acidente doméstico. O que as evidências mostram é que é difícil saber o que aconteceu naquela noite. As provas são frágeis. É possível que tenha existido outra pessoa? Aparentemente sim. Existe um vizinho que ficou desaparecido no prédio durante 20 minutos. O casal é suspeito de ter cometido o crime em 13 minutos. Outra pessoa poderia ter entrado então. Parece uma história absurda, mas tantas absurdas já se confirmaram”, disse Pagnan.

Mesmo em meio a tantas dúvidas, o jornalista ressaltou que seu papel não é o de provar suposta inocência de Alexandre e Anna Carolina. Ele, por sinal, continua acreditando que os dois foram, sim, culpados. O que o motivou a escrever a obra foram apenas os indícios de que o processo possui dualidades e falhas de apuração.

“Os dois sempre alegaram inocência. Disseram que chegaram em casa por volta das 23h30 e as crianças estavam dormindo no carro. Alexandre então teria pegado Isabella, levado ao apartamento e voltado ao veículo para buscar a mulher e as crianças. Nesse momento, alguém teria entrado ali e jogado a menina da janela. Eles não quiseram me dar entrevista, mas li os depoimentos e vi que não há praticamente nenhuma contradição”, afirmou. “Muitas pessoas consideram que o caso precisa ser reaberto por esses problemas na investigação (…). Não sou capaz de falar quem matou. Minha apuração é totalmente isenta. Só sei que a polícia não vai ficar satisfeita com livro, nem o promotor, nem a defesa. Quem disser que sabe o que realmente aconteceu nesse caso, com certeza não sabe com base no processo”, finalizou.

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